«[…] esta poesia não se deixa reduzir ao elogio da solaridade, não conhece apenas as imagens solares, a luz que cai a direito ou quebra a sua lança nas águas do mar. Francis Ponge escreveu acerca desse céu das margens do Mediterrâneo – que era o seu céu romano e provençal e será para Sophia o céu da sua Grécia – um céu que, segundo ele, liberto da fantasmagoria das nuvens dos céus do Norte, podia então na sua transparência deixar pressentir a “noite sideral”, “a noite da consideração”. No seu diferentíssimo mundo, Sophia conhece e nomeia o terror, a aliança quebrada, a injustiça e o sofrimento impostos, mas não cede. Atenta a todas as formas que a luz do sol conhece/ e também à treva interior por que somos habitados/ E dentro da qual navega indicível o brilho (III, 155).
«A poética de Sophia passa por uma ontologia da imagem poética e por uma ética que é inerente ao acto de tomar ou de usar a palavra; e é essa a sua forma de fundar a possibilidade de articular poeticamente o político. O político surge então concentrado em torno do clamor por justiça. E a justiça enquanto exigência pode, por seu turno, entender-se como algo que articula o antropológico, o ético e o histórico, algo que está para além do direito, que não prescinde dele mas não se lhe reduz. Escutemo-la uma vez mais:
A moral do poema não depende de nenhum código, de nenhuma lei, de nenhum programa que lhe seja exterior, mas, porque é uma realidade vivida, integra-se no tempo vivido […] Como Antígona a poesia do nosso tempo diz “Eu sou aquela que não aprendeu a ceder aos desastres.” (I, 8)
«Não está pois em causa a autonomia do estético, mas apenas o absoluto da sua “separação” do vivido.
«A articulação poética do político assume na poesia de Sophia diferentes formas, desdobra-se num largo leque de modalizações […] que partem de um modo de tomar a palavra que rompe ou deverá romper com o oportunismo e a demagogia.»
Manuel Gusmão, “Da evidência poética: justeza e justiça na poesia de Sophia”, in Tatuagem & Palimpsesto – da poesia em alguns poetas e poemas, Assírio & Alvim, 2010
«A poética de Sophia passa por uma ontologia da imagem poética e por uma ética que é inerente ao acto de tomar ou de usar a palavra; e é essa a sua forma de fundar a possibilidade de articular poeticamente o político. O político surge então concentrado em torno do clamor por justiça. E a justiça enquanto exigência pode, por seu turno, entender-se como algo que articula o antropológico, o ético e o histórico, algo que está para além do direito, que não prescinde dele mas não se lhe reduz. Escutemo-la uma vez mais:
A moral do poema não depende de nenhum código, de nenhuma lei, de nenhum programa que lhe seja exterior, mas, porque é uma realidade vivida, integra-se no tempo vivido […] Como Antígona a poesia do nosso tempo diz “Eu sou aquela que não aprendeu a ceder aos desastres.” (I, 8)
«Não está pois em causa a autonomia do estético, mas apenas o absoluto da sua “separação” do vivido.
«A articulação poética do político assume na poesia de Sophia diferentes formas, desdobra-se num largo leque de modalizações […] que partem de um modo de tomar a palavra que rompe ou deverá romper com o oportunismo e a demagogia.»
Manuel Gusmão, “Da evidência poética: justeza e justiça na poesia de Sophia”, in Tatuagem & Palimpsesto – da poesia em alguns poetas e poemas, Assírio & Alvim, 2010
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