quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Livraria

Caros leitores,
Informamos que a Livraria Assírio & Alvim (Rua Passos Manuel, 67 B) estará fechada nos próximos dias 1 e 2 de Janeiro. Porém, podem encontrar os nossos livros no espaço Pessoa & Companhia, no Largo de São Carlos, das 12h às 22h.

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Livros Assírio & Alvim entre os melhores do ano

O Ípsilon (Público), o Actual (Expresso) e alguns blogues incluíram alguns dos nossos livros nas suas listas dos melhores do ano 2008:


A Faca Não Corta o Fogo, Herberto Helder










Myra, de Maria Velho da Costa

«Uma rapariga russa sem eira nem beira e um cão feroz e afinal dócil são as personagens principais deste romance pícaro e triste. Construído em episódios fortes e com uma empatia nada sentimental pelos humilhados e ofendidos, Myra tem a marca Maria Velho da Costa: atenção obsessiva às linguagens, dos arcaísmos ao calão e aos estrangeirismos, numa fascinante teia literária.»

Pedro Mexia




Diário 194 1-1943
, de Etty Hillesum













Sob um Falso Nome, de Cristina Campo














A Leitura Infinita — Bíblia e Interpretação, de José Tolentino Mendonça












Bom ano e boas leituras!

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Boas Festas 2008-2009

(clique na imagem para aumentar)

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Sabia que...

...na Biblioteca Poesia Portuguesa Escolhida encontra alguns dos nossos melhores poetas?
Leve para casa Alexandre O'Neill, Almada Negreiros, Ângelo de Lima, António Maria Lisboa, Camilo Pessanha, Carlos de Oliveira, Fernando Pessoa, Luís de Camões Mário Cesariny, Mário de Sá-Carneiro, Ruy Belo e Teixeira de Pascoaes a preço de feira: 180 € (poupa 109 €).Link

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Sabia que...

...a Biblioteca Pequenos Tesouros da Literatura reúne 50 títulos, publicados na colecção de livros de bolso Gato Maltês?
Ao comprar esta Biblioteca poupa mais de cem euros, pois o seu preço real é 329,50 €, mas com esta promoção pode adquiri-la por 200 €.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Bibliotecas Assírio & Alvim

Boas notícias para quem não vive em Lisboa: agora já pode aceder às Bibliotecas Assírio & Alvim, pois elas estão disponíveis para compra online, em assirio.pt

Para ver que livros integram estas bibliotecas, consulte o nosso site ou a brochura em pdf, no Scribd.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Pessoa & Companhia

(clique para aumentar)

Entrega dos Prémios Literários P.E.N. Clube Português

O P.E.N. Clube Português procede à entrega dos seus prémios literários (29.ª edição) no próximo dia 15 de Dezembro, segunda-feira, pelas 18h30m.
A Cerimónia será presidida pelo Senhor Presidente da República, tendo lugar na SPA-Sociedade Portuguesa de Autores (Av. Duque de Loulé, 39 — Lisboa)
As obras distinguidas foram publicadas no ano de 2007, e inserem-se nas modalidades de Poesia, Ensaio, Novelística e Primeira Obra.
Lista de premiados:

Poesia
- Helder Moura Pereira, Segredos do Reino Animal (Assírio & Alvim)
- Daniel Jonas, Sonótono (Cotovia)

Ensaio
- José Vitorino de Pina Martins, História de Livros para a História do Livro (Fundação Calouste Gulbenkian)
- António M. Machado Pires, Luz e Sombras no Século XIX em Portugal (INCM)

Ficção
- Jaime Rocha, Anotação do Mal (Sextante)

Primeira Obra
- Francisco Camacho, Niassa (Babilónia)
- Maria Helena Santana, Literatura e Ciência na Ficção do Século XIX (INCM)

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Promoções de Natal

Já disponível para consulta, a brochura com informação sobre as Bibliotecas Assírio & Alvim (promoções em conjuntos de livros). Link na barra lateral direita ou aqui.
As Bibliotecas estão disponíveis na Livraria Assírio & Alvim e no espaço Pessoa & Companhia (leia o post acima).

Prémio Luso-espanhol de Arte e Cultura atribuído a Perfecto Cuadrado

Perfecto Cuadrado Fernández (n. 1949) foi laureado com o Prémio Luso-espanhol de Arte e Cultura 2008, pelo contributo que deu no sentido de aproximar culturalmente Portugal e Espanha.
Professor de Filologia Portuguesa e Galega na Universidade das Ilhas Baleares, Perfecto Cuadrado especializou-se no Surrealismo e Modernismo portugueses, tendo vertido para o espanhol numerosas obras da literatura portuguesa (sobretudo de Pessoa e Cesariny), que considera «uma das grandes literaturas do mundo ocidental».
Esta é a segunda edição do prémio, e a decisão de o atribuir a Cuadrado foi consensual por parte do júri, composto por Clara Ferreira Alves, José Adriano de Carvalho, Manuel Graça Dias, Clara Janés Nadal, Carlos Hernandéz Pezzi e Angéles González Sinde.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

«Atlas das aves nidificantes em Portugal»

Disponível online, no Scribd, algumas páginas do livro Atlas das aves nidificantes em Portugal, lançado hoje, pelas 15h, na Fundação Calouste Gulbenkian (mais informação no post abaixo).

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Apresentação do livro «Atlas das aves nidificantes em Portugal»

(clique na imagem para ampliar)

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Mário Cesariny

«Entre nós e as palavra há metal fundente
entre nós e as palavras há hélices que andam»

Mário Cesariny (9 de Agosto de 1923 — 26 de Novembro de 2006)

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Maria Gabriela Llansol - aniversário

Maria Gabriela Llansol faria hoje anos. Apesar de já não estar entre nós, continuamos a ter a companhia da sua obra e da sua memória, carinhosamente conservadas pelo seu grupo de amigos, seguidores e leitores, o Espaço Llansol.
Hoje, este espaço realiza uma sessão evocativa da figura humana e dimensão literária de Llansol, na Biblioteca Municipal de Sintra (Casa Mantero), pelas 18 horas.
Llansol na Bélgica, anos 70
(retirado daqui)

domingo, 23 de novembro de 2008

Herberto Helder (aniversário)

se do fundo da garganta aos dentes a areia do teu nome,
se riscasse com a abrasadura, se
em cima e em baixo mexido às escuras,
o forno com a mão a ver se ela podia
que uma púrpura em flor fosse até ao coração,
unhas e tudo,
que estremecesse, não por dito mas sabido
contra ti, e por artes
antigas trazer o ar, fazer uma
iluminação:
mudar o mundo para que o nome coubesse,
vivaz, tocado, fértil,
houvesse um dom inseparável, música, verbo:
se eu pudesse, se a terra
se atrasasse,
se pudesse em amarga língua portuguesa com o teu nome em qualquer
parte,
para eu mesmo riscar contra ti,
raiar contra ti,
sob
serapilheiras de sangue

In A Faca Não Corta o Fogo - Súmula & Inédita

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Marque na sua agenda: dia 18 de Novembro, terça-feira...

(clique na imagem para aumentar)

domingo, 16 de novembro de 2008

«Requiem Para D. Quixote»

Disponíveis on-line, em pdf, as primeiras 29 páginas do livro Requiem Para D. Quixote, de Dennis McShade (Dinis Machado).
Acesso a partir da barra lateral direita ou aqui.
Lançamento no próximo dia 18, terça-feira
(para mais informações, veja o post acima).

sábado, 15 de novembro de 2008

Ciclo

Ciclo Mishima — Um esboço do nada
De 17 de Novembro a 14 de Dezembro, no CCB
Para ver o programa do ciclo, clique sobre a imagem

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Convite — Nós e os Clássicos: A Bíblia Sagrada por José Tolentino Mendonça



COMUNIDADE DE LEITURA
NÓS E OS CLÁSSICOS



A Bíblia Sagrada
13 de Novembro, quinta-feira, às 19:00 horas
Com José Tolentino Mendonça

Leitura paralela:

A Leitura Infinita: Bíblia e Interpretação, José Tolentino Mendonça




De um clássico toda a primeira leitura é na realidade uma releitura.
É clássico o que persistir como ruído de fundo mesmo onde dominar a actualidade mais incompatível.
Italo Calvino

Porquê ler os clássicos?
Qual a relação possível entre os grandes livros e as grandes questões da actualidade?

Porque ler é uma forma de conhecer o outro...
Porque ler é uma forma de partilhar o mundo...
Porque cada leitor tem direito à comunhão com outros leitores...

A Livraria Almedina-Atrium Saldanha convida todos os que gostam de ler a descobrirem os grandes clássicos da Literatura Universal, apresentados numa perspectiva de ligação com a actualidade, por leitores excepcionais. A comunidade NÓS E OS CLÁSSICOS alarga o conceito de discussão da experiência de leitura prévia de um livro, experimentado desde Março de 2006 pela COMUNIDADE DE LEITORES ALMEDINA, centrada na Literatura Portuguesa Contemporânea.
Numa série de 12 sessões mensais, discutem-se agora os grandes textos que mudaram o entendimento do Homem sobre a realidade e a imaginação. Da Bíblia, do Alcorão ou do Talmude e da Mishna, da obra de Homero, Dante ou Shakespeare às teorias de Marx, Einstein ou Freud ou à obra de Proust, Joyce ou Kafka. À procura de sinais do passado no presente, em análise e em relação com outras leituras e com a experiência de vida de cada um, NÓS E OS CLÁSSICOS.

Todas as sessões são abertas ao público em geral.

INSCRIÇÕES:
Livraria Almedina
Atrium Saldanha
Pç. Duque de Saldanha, 1
Loja 71 – 2º Piso
Tel: 213 570 428
Contacto: Duarte Martinho

Organização: Filipa Melo e Almedina

CONSULTE:
Almedina

domingo, 9 de novembro de 2008

Segredos Culinários de Maria Callas

Convite (clique para aumentar)

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Myra

Não é demais lembrar que há um bom livro à espera de ser lido...
(clique para aumentar)

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

MEC na «LER» de Novembro


Miguel Esteves Cardoso, capa da Ler de Novembro.

Olga Roriz premiada

Olga Roriz, coreógrafa e bailarina, foi distinguida com o Grande Prémio Millenium bcp.


Cerimónia a 3 de Dezembro, no âmbito da Gala de Autor (Teatro Nacional de São Carlos).

Veja aqui detalhes sobre o seu livro.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Adalberto Alves

Adalberto Alves foi distinguido com o Prémio Sharjah 2008 para a Cultura Árabe (UNESCO)

«O objectivo do prémio é distinguir personalidades, grupos ou instituições que tenham contribuído de forma significativa para o desenvolvimento, a difusão e a promoção da cultura árabe no mundo e também a preservação e revitalização deste património cultural.
Atribuído pela primeira vez em 2001, o prémio Sharjah tem distinguido sempre duas personalidades, uma do mundo árabe e outra de um país não árabe, como acontece este ano com o português Adalberto Alves.»
Público, 7 de Outubro de 2008

Cerimónia a 17 de Novembro, em Paris.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

II Conferência Internacional do Plano Nacional de Leitura

Dias 23 e 24, na Fundação Calouste Gulbenkian, a II Conferência Internacional do Plano Nacional de Leitura.
A entrada é livre
Clique nas imagens para ver o programa.

Dia 23

Dia 24

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Quintas de Leitura

José Tolentino Mendonça é o poeta convidado das Quintas de Leitura.
23 de Outubro (quinta-feira) de 2008.









Reconhecimento dos laços



agora as tuas mãos estranhas ao medo
procuram um abrigo mais puro, o lume
agora o tempo se mede por búzios
e os nomes flutuam mais leves que
as algas

podia abrigar duas formigas
e contar-te a história do mundo
desde que foi criado

podia se deixasses
escrever aquela história
da filha louca dos Matildes
a falar horas seguidas
da lucidez assustadora
deste poema

tudo podia
já que
os anjos do vento desenham na água
o fulgor inesperado
do teu gesto

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Myra

A partir da próxima semana (dia 23) nas livrarias, Myra, o novo livro de Maria Velho da Costa

Myra
Maria Velho da Costa




Edição brochada (224 pp.)
Classificação: Romance
Colecção: A Phala
16 €

Aqui fica o segundo capítulo deste livro:

Era noite cerrada. O camionista Kleber segue pela faixa da direita. As traves de madeira estralejam por detrás da cabine. Ora se vê, ora não se vê bem o perfil hirsuto, ruivo, de Kleber. A miúda vai sentada ao seu lado com o cinto de segurança por cima da manta de que só tira uma das mãos para afagar a cabeçorra do cão aos pés. E para ter comido o hamburger que Kleber lhes comprou na estação de serviço.
Os antigos egípcios acreditavam que era um deus-cão, Anubis, que os conduzia na barca dos mortos, diz Kleber.
Eu queria que este se chamasse Tzar, mas eles não deixaram. Que era falta de respeito. Ficou César.
Vem a dar ao mesmo, Sónia. Um nome é um destino. E depois?
Não é não, senão a pessoa mudava de destino cada vez que mudasse de nome. E depois, já lhe contei, só que comecei pelo fim, quando o Senhor Kleber me apanhou na berma, toda encharcada, com o César neste estado.
Myra continuou a bela narrativa. Kleber não parecia espantado,
nem incrédulo. Como se tudo na vida fosse possível.
Depois eles fizeram-me vir de lá tinha eu seis anos para eu não ficar ladra como os meus irmãos. A minha avó chorou muito. Eu vim de carrinha em carrinha. Ninguém tinha papéis, mas os que me iam trazendo tinham sempre dinheiro e onde ficar. Quando cheguei aos meus pais não os conheci. Eles também choraram muito mas eu chorava mais com saudades de casa da avó, que era muito pobre mas tinha um quintal e às vezes lá conseguia que eles lhe dessem dinheiro para comprar um ganso que ela engordava com sobras de pão seco e couves do quintal. Isto no Verão porque no Inverno passávamos muito frio a pedir na neve à porta de S. Basílio e das entradas quentes do Metro, até nos enxotarem por causa dos turistas. Escumalha russa, diziam, escumalha russa.
Santa mãe Rússia, disse o Sr. Kleber, abrandando para deixar passar uma carrinha com um carregamento de fardos de palha. Para lá cortiça, para cá palha e betoneiras. Santa mãe Mundo.
O cão vai vivo?
Vai sim, agora que comeu e bebeu água da chuva. E vai quente.
E Myra afagou o que não seria mais Rambo.
Vais bem, César?
E o cão agitou a cauda.
Bom, bom, também sabia mentir.
E depois?, disse o Sr. Kleber. Como foi cá? Desamarra-lhe a corrente. Há para aí um cinto, o bicho no estado em que está não precisa de levar tanto ferro no cachaço.
Tantos cuidados, pensou Myra. Se eu tiver que fugir deste, como é que faço?
E continuou com a sua narrativa mirífica pela noite e estrada dentro. Clareava. Havia plainos e sobreiros descarnados e casas caiadas, com os pés, as portas e as janelas em azulão. Casas caiadas. Já não estavam na auto-estrada mas num ramal bordejado de mimosas em flor. Pode-se ser morto e esquartejado em qualquer lugar, mas Myra, ladina, não tinha muito por onde escolher. Nem que ele lhe pedisse uma mamada e isso ela tinha aprendido a fazer.
Falta muito?, perguntou Myra, no desvio do descampado deserto, agreste de árvores cinza na madrugada, rebanhos de ovelhas e bois com a cabeça descida à terra ocre, de fome, de sono.
Falta o que falta da tua história. E o Sr. Kleber sorriu.
Não tenhas medo, miúda. Em todas as histórias há sempre uma ponta do paraíso, um véu de clemência que estende uma ponta, fugaz que seja.
O Sr. Kleber é professor?
Não, mas fui bem ensinado. Não como crianças e muito menos carne de cão. Ora diz lá, que até chegarmos há tempo.
O que é uma herdade, senhor Kleber?
É aquilo que se herda, mas também se compra e vende.
É sua, a casa?
São várias casas, como cogumelos aos pés de um castanho, que é a patroa, na Casa Grande. É para lá que vais. E depois? Há quanto tempo tens o cão, Sónia?
Há cinco anos, mentiu Myra mais.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Apresentação do livro «A Minha Escola Não É Esta», de Pedro Strecht

Durante o dia de amanhã (clique na imagem para ler o programa).

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Helder Moura Pereira — Prémio PEN Clube de Poesia

Helder Moura Pereira foi laureado com o Prémio PEN Clube de Poesia 2008, pelo seu livro Segredos do Reino Animal (Assírio & Alvim, 2007), ex-aequo com Daniel Jonas (com a obra Sonótono — Cotovia).

J.M.G. Le Clézio e a escrita

«Vou-vos dizer, vou-vos explicar tudo. Tinha, portanto, dez, doze anos e morava nessa velha casa que dava para o porto, um pouco napolitana, completamente a cair, com lençóis a secar a todas as janelas do pátio, gatos semi-selvagens que lutavam nos telhados e, claro, os bandos de pombos. Nesse tempo não sabia o que era um escritor, não fazia a menor ideia, nem suspeitava que tinha havido um escritor chamado Jean Lorrain que habitara a mesma casa, outrora. Recordo esta casa sobretudo na época do calor, no Verão e no começo da Primavera, porque deixávamos as janelas abertas e escutávamos o barulho dos gaivões e os arrulhos dos pombos. Mas havia especialmente um barulho que mexia comigo. Não posso verdadeiramente dizer porque é que me inquietava, mas ainda hoje quando penso nisso me arrepio e entro numa espécie de estado de melancolia e impaciência que precede o momento em que sei que terei de me sentar em qualquer lado, ali mesmo onde estou, agarrar num caderno e numa lapiseira e começar a escrever. Este barulho, eram as vozes dos jovens que chamavam uns pelos outros no pátio, que gritavam os seus nomes. Havia os rapazes que assobiavam, e os outros que metiam a cabeça à janela, e diziam: "Estás abonado?" E os de cima: "Onde é que vão?" Eles iam já não sei onde, à praia ou à feira, ou simplesmente conversar à esquina da rua, ou esperar as raparigas que saíam da escola Ségurance, isso já não tem nenhuma importância. Mas quando ouvia aqueles assobios, e os nomes que ecoavam no pátio, imaginava uma vida diferente da minha, imaginava as correrias pelo infinito das ruas, imaginava os banhos na água fria do mar, o sol, o cheiro dos cabelos das raparigas, a música dos dancings, a aventura, a noite. Nunca ouvi chamar o meu nome no pátio, nunca ouvi assobiar por mim. Eu vivia na mesma casa, mas era outro mundo. Aqui está, é por isto que eu escrevo.»

J.M.G. Le Clézio, in Libération, Março de 1985 [retirado de A Phala 36; tradução de Ana Cristina Leonardo].

J.M.G. Le Clézio


J.M.G. Le Clézio é Nobel da Literatura de 2008.


Inédito de Herberto Helder a partir de hoje nas livrarias

A Faca Não Corta o Fogo — Súmula & Inédita
Herberto Helder




Colecção: Grãos de Pólen
208 pp.
edição encadernada
20 €

se do fundo da garganta aos dentes a areia do teu nome,
se riscasse com a abrasadura, se
em cima e em baixo mexido às escuras,
o forno com a mão a ver se ela podia
que uma púrpura em flor fosse até ao coração,
unhas e tudo,
que estremecesse, não por dito mas sabido
contra ti, e por artes
antigas trazer o ar, fazer uma
iluminação:
mudar o mundo para que o nome coubesse,
vivaz, tocado, fértil,
houvesse um dom inseparável, música, verbo:
se eu pudesse, se a terra
se atrasasse,
se pudesse em amarga língua portuguesa com o teu nome em qualquer
parte,
para eu mesmo riscar contra ti,
raiar contra ti,
sob
serapilheiras de sangue

Já disponível também no nosso site, aqui.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

«Pois, como diria Peter Maynard»

«Como partilhávamos o mesmo encanto pelas coisas menores da vida, aquelas que normalmente não dão grandes carreiras e muito menos grandes romances, passámos muitas horas a falar de livros policiais e de filmes negros. Desse por onde desse, a conversa acabava sempre por ir dar ao mesmo. Ainda que tivessem caído dois arranha-céus em Nova York, ou uma onda gigante tivesse engolido a ilha de Ceilão, para nós era muito mais importante recordar o Borsalino tombado para os olhos com que o Bogart fazia, com o mesmo à vontade e praticamente a mesma gabardina, tanto de Sam Spade como de Philip Marlowe.»


Leia aqui na íntegra o texto que José Xavier Ezequiel dedicou a Dinis Machado [1930-2008]

Oiça um excerto da entrevista a Miguel Esteves Cardoso para a TSF

Miguel Esteves Cardoso é entrevistado por Carlos Vaz Marques para a rádio TSF (programa Pessoal... E Transmissível). Hoje, por volta das 19h (com repetição depois do noticiário da uma da manhã).

Oiça aqui um excerto da entrevista — Miguel Esteves Cardoso fala da imprensa e dos blogues:


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Relembramos que pode ler aqui as primeiras páginas da mais recente obra deste autor, Em Portugal Não Se Come Mal.

domingo, 5 de outubro de 2008

Novidade

A Faca Não Corta o Fogo — Súmula & Inédita representa o esperado regresso de Herberto Helder. Um novo volume de poesia, com todo o rigor e beleza a que nos habituou.

A Faca Não Corta o Fogo — Súmula & Inédita
Herberto Helder




Edição encadernada (208 pp)
Classificação: Poesia
Colecção: Grãos de Pólen
20 €

Engoli
água. Profundamente: — a água estancada no ar.
Uma estrela materna.
E estou aqui devorado pelo meu soluço,
leve da minha cara.
O copo feito de estrela. A água com tanta força
no copo. Tenho as unhas negras.
Agarro nesse copo, bebo por essa estrela.
Sou inocente, vago, fremente, potente,
tumefacto.
A iluminação que a água parada faz em mim
das mãos à boca.
Entro nos sítios amplos.
— O poder de reluzir em mim um alimento
ignoto; a cara
se a roça a mão sombria, acima
da camisa inchada pelo sangue,
abaixo do cabelo enxuto à lua. Engoli
água. A mãe e a criança demoníaca
estavam sentadas na pedra vermelha.
Engoli
água profunda.

sábado, 4 de outubro de 2008

Reedição

Não se trata de uma novidade, mas da reedição de um livro que, editado em Abril deste ano, foi generosamente abraçado pelo público e pela crítica: Diário 1941-1943, de Etty Hillesum (novamente disponível nas livrarias a partir de dia 9 de Outubro).

Diário 1941-1942, Etty Hillesum
Tradução: Maria Leonor Raven-Gomes




Edição brochada (352 pp)
Classificação: Diário; Religião; Holocausto
Colecção: Teofanias
22 €

«Foi novamente como se a Vida, com todos os seus segredos, estivesse próxima de mim, como se eu a pudesse tocar… E ali sentia-me imensamente segura e protegida. E pensei: "Como isto é estranho. É guerra. Há campos de concentração. Pequenas crueldades amontoam-se por cima de pequenas crueldades. Quando caminho pelas ruas, sei que, em muitas das casas por onde passo, há ali um filho preso, e ali um pai refém, e ali têm de suportar a condenação à morte de um rapaz de dezoito anos." E estas ruas e casas ficam perto da minha própria casa.
Sei do grande sofrimento humano que se vai acumulando, sei das perseguições e da opressão… Sei de tudo isso e continuo a enfrentar cada pedaço de realidade que se me impõe. E num momento inesperado, abandonada a mim própria — encontro-me de repente encostada ao peito nu da Vida e os braços dela são muito macios e envolvem-me, e nem sequer consigo descrever o bater do seu coração: tão fiel como se nunca mais findasse…»

A 9 de Março de 1941, quando Esther (Etty) Hillesum começou a escrever, no primeiro dos oito cadernos de papel quadriculado, o texto que viria a ser o seu Diário, estava-se longe de pensar que começava aí uma das aventuras literárias e espirituais mais significativas do século. Ela tinha vinte e sete anos de idade e morreria sem ter feito trinta.

A 30 de Novembro de 1943, a Cruz Vermelha comunicou a sua morte em Auschwitz.

Novidade

Uma proposta diferente: o artista auto-retratando-se. Aquilo Sou Eu é isso mesmo: uma junção dos auto-retratos dos artistas que aceitaram o desafio. Aqui se encontram, entre outros, Daniel Blaufuks, Jan Fabre, Jorge Molder, Cindy Sherman, Susanne Themlitz.
Aquilo Sou Eu, o livro, resulta da exposição com o mesmo nome, actualmente (e até 31 de Outubro) na Fundação Carmona e Costa.
Disponível nas livrarias a partir de dia 9 de Outubro.

Aquilo Sou Eu
Vários Autores




Caixa (15,5 x 22 cm)
Classificação: Arte; Auto-retrato
Colecção: Arte e Produção
25 €

Escreve Margarida Medeiros no texto publicado no livro: «O convite feito a um artista para que se coloque ao espelho e registe a sua própria imagem é um convite a demorar-se sobre essa realidade identitária que nos foge a cada minuto, na qual não nos podemos demorar muito para que possamos continuar a viver. Quando um artista é convocado, por muito informalmente que o seja, como foi no caso do gesto afectuoso de Luís Serpa, a fazer o seu auto-retrato, e o faz, mesmo que contrariado, para agradar a um amigo, confronta-se com a necessidade de exteriorizar uma auto-imagem, de construir uma representação que enuncie qualquer coisa sobre si. Mas qualquer artista sabe que apenas tem de dar qualquer coisa, e que lhe seria impossível fornecer uma imagem una, acabada, total, de si mesmo. Por outro lado, como artista, a sua marca autoral estará sempre ligada à representação que de si fizer e ele sabe-o.»

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Novidades

Regressam os calendários Assírio & Alvim. Vá desvendando já aquilo que o ano de 2009 lhe trará. Disponíveis nas livrarias a partir do dia 9 de Outubro, o Poemário, o Culinário e o Diário.

Poemário 2009
Vários Autores (poemas retirados dos livros de poesia publicados pela Assírio & Alvim)




Edição brochada (640 pp)
Classificação: Poesia; Calendário
10 €

[Se um comboio pode esconder outro, um dia não substitui outro, um poema não apaga outro; aconselha-se atenção redobrada para que nada do que é importante caia no esquecimento; mas, uso livre e irrestrito — dos dias, dos poemas.]


A MEU FAVOR

A meu favor
Tenho o verde secreto dos teus olhos
Algumas palavras de ódio algumas palavras de amor
O tapete que vai partir para o infinito
Esta noite ou uma noite qualquer

A meu favor
As paredes que insultam devagar
Certo refúgio acima do murmúrio
Que da vida corrente teime em vir
O barco escondido pela folhagem
O jardim onde a aventura recomeça.

Alexandre O’Neill (1924-1986)
Poesias Completas
(introdução e organização de Miguel Tamen)

Culinário 2009
Vários Autores (receitas retiradas dos livros de culinária publicados pela Assírio & Alvim)
Edição brochada (640 pp)
Classificação: Culinária; Calendário
10 €


Este Culinário é dedicado a Alfredo Saramago (1938-2008)


«A cozinha é uma arte de circunstâncias e, no tempo presente, a cozinha tradicional é horizonte de muitas procuras e desejados encontros.
A história da cozinha está ligada à história do homem, porque foi essa cozinha que, em todas as épocas da história, funcionou como matriz civilizacional.»
ALFREDO
SARAMAGO, Livro-Guia do Alentejo

Diário 2009
Vários Autores (textos e imagens retirados dos livros publicados pela Assírio & Alvim)




Edição brochada (224 pp)
Classificação: Arte; Literatura; Agenda
10 €

Há alegria
nalguns reencontros; existem memórias percorridas pela melancolia. O tempo — é saber antigo — voa. Hoje, o sol castiga as calçadas, amanhã, o vento torce as árvores nuas. Que mais oferecer que a entrega dos dias à recordação de algumas vozes?
Propostas, fragmentos para reter a passagem do olhar. Pretextos para desvendar o que os dias têm de efémero, onde somos visitas e viajantes.
De caminho, talvez possamos recordar a distância que separa um aforismo de uma fábula, uma fotografia da vida que a preenche, ou da realidade que inventa.
A imaginação exige espaço, o passo demorado que se alonga, procurando atrasar a passagem do tempo. Hoje uma sugestão, depois outra. Poder voltar atrás, sempre que se quiser.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Miguel Esteves Cardoso na TSF

Miguel Esteves Cardoso é entrevistado por Carlos Vaz Marques para a rádio TSF (programa Pessoal... E Transmissível). Segunda-feira, 6 de Outubro, por volta das 19h (com repetição depois do noticiário da uma da manhã).

Relembramos que pode ler aqui as primeiras páginas da mais recente obra deste autor, Em Portugal Não Se Come Mal.

Apresentação do livro «História da Etiópia»

A Assírio & Alvim tem o prazer de o/a convidar para o lançamento do livro História da Etiópia, de Pedro Páez, com edição de Isabel Boavida, Hervé Pennec e Manuel João Ramos.

Dia 3 de Outubro, sexta-feira, pelas 18.00 horas na Livraria Bulhosa do Campo Grande.

Apresentação por:
- Professora Doutora Paula Morão
- Professor Doutor Fernando Cristóvão

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Apresentação do livro «Gatos Comunicantes»

A Assírio & Alvim e a Fundação Arpad Szenes – Vieira da Silva têm o prazer de o convidar para o lançamento do livro Gatos Comunicantes — Correspondência entre Vieira da Silva e Mário Cesariny 1952 - 1985

Dia 1 de Outubro, quarta-feira, pelas 18h30m, no auditório da Fundação Arpad Szenes – Vieira da Silva

Apresentação por Perfecto E. Cuadrado e Helena Barbas
Leitura de algumas cartas por João Grosso e Teresa Lima

Com o apoio da Fundação EDP

Leia algumas das cartas que integram este livro, aqui ou na barra lateral.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Descontos durante o dia de amanhã

Aproveitando a ocasião da apresentação do Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal (em 3.ª edição), alguns dos nossos livros relacionados terão descontos de 20% a 50%.

- O Livro Vermelho [...] será vendido com 20% de desconto

Mas aproveite também as promoções sobre os seguintes títulos:

- A Árvore em Portugal
- O Cavalo e o Sentimento
- Nomes Portugueses das Aves do Paleártico Ocidental
- Onde Observar Aves no Sul de Portugal
- Percursos — Paisagens e Habitats de Portugal
- Polvos, Lulas e Chocos
- Tratado da Árvore

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Em Portugal Não Se Come Mal

Disponíveis on-line, as primeiras páginas do mais recente livro de Miguel Esteves Cardoso, Em Portugal Não Se Come Mal. Na barra lateral esquerda ou aqui.

Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal — Apresentação da 3.ª edição

A Assírio & Alvim convida-o(a) a assistir ao lançamento da 3.ª edição do Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal — Peixes Dulciaquícolas e Migradores, Anfíbios, Répteis, Aves e Mamíferos. A apresentação será feita por Jorge Palmeirim, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, e Henrique Pereira dos Santos, do Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade. No dia 25 de Setembro, quinta-feira, pelas 19.00h, na Livraria Assírio & Alvim — Rua Passos Manuel, 67B, Lisboa.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Novidades

Um novo livro de Paul Bowles, Por Cima do Mundo, e a reedição d'O Marinheiro que Perdeu as Graças do Mar, de Yukio Mishima, são as novidades da Assírio & Alvim, disponíveis nas livrarias a partir do dia 24:


Por Cima
do Mundo Paul Bowles
Tradução: David Antunes e Sara E. Eckerson



Edição brochada (240 pp)
Classificação: Romance
Colecção: O Imaginário
15 €

No terraço de um apartamento sofisticado sobre uma colina com vista para uma capital da América Central, quatro pessoas conversam amigavelmente. Os Slade, um casal de turistas americanos, são recebidos por um homem novo, de grande charme e beleza, que acabam de conhecer, e pela sua amante. Ali sentados, com bebidas na mão e a observar um pôr do sol invulgarmente belo, os Slade parecem estar a viver um daqueles momentos afortunados que povoam a imaginação de todos os viajantes. Mas entre a boa educação e a conversa trivial, um comentário revela-se profético — o anfitrião diz para a mulher americana: «— Não é bem o que você pensa.»
Neste romance Paul Bowles conduz-nos, com inigualável mestria, a um tortuoso labirinto de relações humanas situado por baixo de uma superfície de hospitalidade e luxo, até à constatação de que aquilo que, a princípio, parece ser um mero encontro casual, está na realidade enraizado no vício e no horror.


O Marinheiro que Perdeu as Graças do Mar
Yukio Mishima
Tradução: Carlos Leite


Edição brochada (184 pp)
Classificação: Novela
Colecção: O Imaginário
11 €


O Marinheiro que Perdeu as Graças do Mar é uma das mais breves e belas novelas da obra de Mishima. Há quem veja na sua trama uma representação simbólica da sociedade japonesa do pós-guerra conforme a radical visão do autor. Bem mais do que isso, é uma novela de rara beleza, erotismo, imprevisibilidade e de um radicalismo brutal. Noboru deslumbrou-se com a relação poética e erótica de sua mãe com o fascinante Ryuji, o marinheiro que carrega a grandeza, a glória, o brilho do mar e aquele boné com «a âncora ao centro do grande emblema em forma de lágrima [...] reflectindo o sol da tarde». Mas esta apaixonante relação sofrerá uma inesperada mudança. No exterior há um grupo organizado segundo um Chefe, com elementos precocemente militarizados. Rapidamente absorvem o confuso Noboru nos severos princípios da tradição japonesa. Não tarda que o marinheiro seja julgado por ter traído os valores fundamentais de idealismo, de beleza e de glória. Segundo os códigos do grupo, as contemplações são proibidas e qualquer cedência significaria a sobreposição do caos à ordem, como avisa o Chefe, ou, conforme diz, mais eufemisticamente, o último parágrafo do livro: «a glória, como vós sabeis, é uma coisa amarga».

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

«Correspondências»

A exposição Correspondências — Vieira da Silva por Mário Cesariny prolongar-se-á até dia 9 de Novembro.
Na Fundação Arpad Szenes - Vieira da Silva (Praça das Amoreiras, 56/58 — Lisboa).

Horário: de segunda a sábado, das 11h às 19h. Domingos, das 10h às 18h. Encerra às terças-feiras e feríados.
Preço dos bilhetes: 3 €. Descontos de 50% para estudantes, reformados, professores e portadores do Lisboa Card. Gratuito aos domingos, das 10h às 14h.

Para consultar a brochura da exposição, clique aqui.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Cesare Pavese — cem anos do nascimento













Cesare Pavese
[09-09-1908/1950]


«Acredito no que todos os homens esperaram e sofreram. Se outrora subiram a estes cumes pedregosos ou procuraram pântanos mortais sob o céu, foi porque aí encontravam alguma coisa que nós não conhecemos. Não era o pão nem o prazer nem a querida salvação. Estas coisas sabe-se onde estão. Não é aqui. E nós que vivemos longe à beira do mar ou nos campos, essa outra coisa perdemo-la.»
Cesare Pavese, in Diálogos com Leucó

domingo, 7 de setembro de 2008

Camilo Pessanha












Camilo Pessanha
[1867-1926]



ESTÁTUA

Cansei-me de tentar o teu segredo:
No teu olhar sem cor, — frio escalpelo, —
O meu olhar quebrei, a debatê-lo,
Como a onda na crista dum rochedo.

Segredo dessa alma e meu degredo
E minha obsessão! Para bebê-lo
Fui teu lábio oscular, num pesadelo,
Por noites de pavor, cheio de medo.

E o meu ósculo ardente, alucinado,
Esfriou sobre o mármore correcto
Desse entreaberto lábio gelado…

Desse lábio de mármore, discreto,
Severo como um túmulo fechado,
Sereno como um pélago quieto.

Camilo Pessanha, in Clepsydra — Poemas de Camilo Pessanha

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Antonin Artaud












Antonin Artaud
[1896-1948]



«Quando vivo, não me sinto viver. Mas quando represento, aí me sinto existir.
O que me impediria de acreditar no sonho do teatro, quando acredito no sonho da realidade?
Quando sonho faço qualquer coisa, e no teatro faço qualquer coisa.
Conduzidos pela minha consciência profunda, os acontecimentos do sonho ensinam-me o sentido dos acontecimentos da vigília, onde a fatalidade completamente nua me conduz.
Ora, o teatro é como uma grande vigília onde sou eu quem conduz a fatalidade.»
Antonin Artaud in Eu, Antonin Artaud (excerto)

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Descontos na Livraria Assírio & Alvim em Setembro

Em Setembro, a Livraria Assírio & Alvim faz novos
descontos, de 20% e 30%, nos livros de poesia e de fotografia.

Horário: de segunda a sábado, das 10h às 13h e das 14h às 19h
Localização: Rua Passos Manuel, 67 B — Lisboa

Mary Renault

Mary Renault (1905-1983)

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Blaise Cendrars













Blaise Cendrars

[01-09-1887-1961]



«Senhor, quando Vós morrestes, o pano fendeu-se,
O que estava por detrás, ninguém o disse.

Na noite a rua é como se fosse uma ferida,
Cheia de ouro e sangue, de fogo e lixo.

Os que Vós expulsastes do templo a chicote,
Agridem os transeuntes com um punhado de patifarias.

A Estrela que desapareceu então do Tabernáculo,
Arde pelas paredes na luz crua dos espectáculos.

Senhor, o Banco iluminado é como um cofre forte,
Onde foi coagulado o Sangue da vossa morte.»

Blaise Cendrars, excerto do poema «Senhor, hoje é o dia do vosso Nome» (in Folhas de Viagem)