segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Evocação de Sophia (I)

«Diariamente, ao fim da tarde, depois dos museus, dos templos, das igrejas ou de um percurso de automóvel durante o qual falávamos das suas traduções de Dante, Shakespeare ou Rimbaud “juventude ociosa / por tudo iludida / por delicadeza perdi minha vida” (2), não se cansava de repetir, íamos religiosamente gozar do prazer de um mergulho no Mediterrâneo: de olhos abertos, como ela fazia, até ao fundo, aprendendo a distinguir a linha divisória entre o verde e o azul das águas. “E abro bem os olhos no silêncio líquido e verde onde rápidos, rápidos fogem de mim os peixes.” (1)
[…]
«Com a distância, parece-me evidente a sua extraordinária identificação com tudo o que sente e o que respira, o fogo de um conhecimento infalível que a levou a penetrar as grutas do secreto, do misterioso, do oculto – muito para lá do histórico, do épico, do científico, do filosófico e do mítico, do psicológico, até aos mais profundos recessos da alma humana.»

Alberto Vaz da Silva, Evocação de Sophia, Assírio & Alvim, 2009

(2) O Nome das Coisas.
(1) Livro Sexto.

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