domingo, 7 de setembro de 2008

Camilo Pessanha












Camilo Pessanha
[1867-1926]



ESTÁTUA

Cansei-me de tentar o teu segredo:
No teu olhar sem cor, — frio escalpelo, —
O meu olhar quebrei, a debatê-lo,
Como a onda na crista dum rochedo.

Segredo dessa alma e meu degredo
E minha obsessão! Para bebê-lo
Fui teu lábio oscular, num pesadelo,
Por noites de pavor, cheio de medo.

E o meu ósculo ardente, alucinado,
Esfriou sobre o mármore correcto
Desse entreaberto lábio gelado…

Desse lábio de mármore, discreto,
Severo como um túmulo fechado,
Sereno como um pélago quieto.

Camilo Pessanha, in Clepsydra — Poemas de Camilo Pessanha

Sem comentários: