segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

«Soneto para Cesário», de Dinis Machado

SONETO PARA CESÁRIO

Se te encontrasse, agora, na paisagem
nocturna dos fantasmas da cidade,
contava-te dos nossos pobres versos
no teu rasto de sombra e claridade.

Contava-te do frio que há em medir
a distância entre as mãos e as estrelas,
com lágrimas de pedra nos sapatos
e um cansaço impossível de escondê-las.

Contava-te — sei lá! — desta rotina
de embalarmos a morte nas paredes,
de tecermos o destino nas valetas...

Duma história de luas e de esquinas,
com retratos e flores da madrugada
a boiarem na água das sarjetas.

Dinis Machado

In «Diário Ilustrado», de 20 de Abril de 1957, p. 9.
Com ilustração assinada «K.»

Transcrição: Cortesia de Vasco Rosa.

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