terça-feira, 27 de maio de 2008

Feira do Livro — Livros do dia

Terça-feira, 27 de Maio de 2008

Pavilhão 34
Deixa a Chuva Cair
Paul Bowles
P.V.P.: 20 €
Preço de Feira: 12 €








Nelson Dyar, um jovem americano cansado da monotonia da sua vida de empregado bancário, chega, depois da II Grande Guerra, à Zona Internacional de Tânger para começar uma nova vida. Wilcox, um vago conhecimento de infância, oferecera-lhe emprego na sua agência de viagens. Transposto para um meio que lhe é totalmente estranho, Dyar vagueia perdido entre os salões dos residentes ocidentais e os bares e bordéis da Casbah e entre as duas culturas – a árabe e a ocidental – sem compreender nenhuma. Paul Bowles retrata as figuras dessa sociedade que tão bem conheceu e inclui mesmo uma caricatura de si próprio. Dyar é, no entanto, uma personagem totalmente inventada. Um ‘Zé-ninguém’, uma vítima, como ele próprio se descreve, com uma personalidade que se define apenas em termos da situação, alguém que, como lhe diz Daisy, nunca viveu. Retirado do ambiente ordenado em que existira até então, Dyar não consegue interpretar as reacções daqueles com quem se cruza, numa cidade dividida e corrupta: Hadija, a pequena prostituta, a terrível Eunice Goode, Thami, o contrabandista árabe que faz a ponte entre os salões do palácio Beidaoui e os bares da Casbah, Daisy de Valverde, Wilcox, com os seus negócios escuros, Madame Jouvenon e a espionagem, os berberes e o povo das montanhas, a população dos bairros indígenas e os cambistas judeus. A chuva cai incessante, transformando em rios as ruelas da Casbah e marcando as alterações do estado de espírito de Dyar. Se o céu do romance O Céu que Nos Protege era vasto e azul, o céu de Deixa a Chuva Cair, também omnipresente, é opressivo e escuro. A chuva que teima em cair, as nuvens que se acumulam, as ondas do Estreito de Gibraltar, o vento que assobia e faz bater a porta da cabana nas montanhas acompanham o percurso de Dyar até ao abismo inevitável.


Pavilhão 21
Diálogo de Vanguardas
Amadeo de Souza-Cardoso
P.V.P.: 80 €
Preço de Feira: 45 €





«Amadeo de Souza-Cardoso serviu bem muitas das vontades míticas por cá existentes entre a genialidade precoce, vertiginosa e finalmente desentendida pela pertença periférica do artista, e as apressadas qualificações da obra como um epigonismo voraz e pouco mais. Amadeo oscilou, nestas qualificações e desqualificações, entre o jovem imigrante e o aristocrata rural e possidente, mesmo até certo ponto arrogante, como se essas variáveis tipológicas tão portuguesas e tão universais pudessem trazer a menor réstia de luz para entender a obra.
[...] Não é um momento de "Entfremdung", à maneira hegeliana, o que irá acontecer aqui, porque a existência e o valor da obra não estão minimamente em causa, antes se procura uma medida mais conforme para o seu reconhecimento.
Os textos, de modo diferente, e como se desejou, embora reencontrem um Amadeo próximo dos seus modelos hermenêuticos tradicionais, tantas vezes repetidos, de vertigem, voragem e talento, ultrapassam-nos, assinalando aquilo em que ele é diferente, original e significativo. E são essas características que, para lá da superfície necessariamente tumultuosa do seu presente artístico mais imediato, lhe dão, por mérito inquestionável, um lugar adequado e imprescindível na arte do seu tempo.»

Jorge Molder

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