«[…] Deus do céu, vão mesmo conseguir fechar todas as portas? Sim, vão. Fecham as portas, comprimindo a multidão de pessoas amontoadas e empurradas para trás. Pelas estreitas aberturas no topo, vêem-se cabeças e mãos que mais tarde acenarão para nós quando o comboio partir.
Queria dizer apenas o seguinte: a miséria aqui é realmente terrível e, ainda assim, à noite, quando o dia caiu num abismo atrás de mim, costumo caminhar a passo enérgico ao longo do arame farpado e, nessas alturas, volta a assolar-me o sentimento de que esta vida é algo de glorioso e magnífico e que, um dia, teremos de construir um mundo totalmente novo. E quantos mais delitos e horrores se derem, mais amor e bondade teremos de oferecer em contrapartida, sentimentos que temos de conquistar dentro de nós. Podemos sofrer, mas não podemos sucumbir. E se escaparmos a estes tempos imaculados no corpo e na alma, mas sobretudo na alma, sem rancor, sem ódio, então, também nós teremos algo a dizer. […]»
A Han Wegerif e outros.
Westerbork, terça-feira, 24 de Agosto de 1943.
[excerto]
ISBN: 978-972-37-1337-4
Também na Assírio & Alvim: Diário 1941-1943; ISBN: 978-972-37-1274-2
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