«Ah, o olhar! [...] o olhar é o utensílio privilegiado da libertação, é a espada que corta o nó, a mão que parte o ovo, a asa que sobrevoa o dédalo. Apliquei-me a olhar com "olhos de ver" e menos para corroborar maquinalmente certas ideias alienadas do real. Não é tão fácil tarefa quanto parece; o olhar de um adulto é diferente do de uma criança: perdeu-se a pureza, a inteireza, a inocência. [...]
[...] Munido da Leica, calcorreei as ruas de muitas cidades, as veredas de muitos campos para aprender a "ver" os outros. Intercalar uma objectiva entre os olhos e o sujeito foi excelente pedagogia e, se os resultados não trouxeram fama ou notoriedade, é certo que a fotografia me ensinou a ver melhor. Se as minhas imagens são medíocres, constato hoje, com alguma emoção, que o fio condutor da maioria delas se prende com o olhar das centenas de pessoas que agredi com aquele impiedoso olho de vidro.»
Gérard Castello-Lopes, Reflexões Sobre Fotografia - Eu, a fotografia, os outros, Lisboa, Assírio & Alvim, 2004, p. 39
domingo, 13 de fevereiro de 2011
Gérard Castello-Lopes (6/VIII/1925 - 12/II/2011)
Retrato de Gérard Castello-Lopes, por Augusto Cabrita (c. 1991), na mesma edição.
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