O percurso aqui proposto é «[…] um percurso extraordinário, pois nele estão contidas várias revoluções, desde os simbolistas, passando pela ruptura expressionista, por Braque e Picasso, até
chegarmos ao Futurismo e, de novo, ao Neo-classicismo. Tudo isto incidindo num período histórico de uma dramaticidade deslumbrante. A primeira Europa verdadeiramente capitalista, que era a potência dominante do mundo, com a sobrevivência ainda, sobretudo em Inglaterra e França, do poder colonial, assistia ao esboçar lento de algo que ninguém poderia imaginar então (a excepção foi realmente Nietzsche). O território europeu começava a ser um palco de guerra e esse facto marcou profundamente o século XX que continua a ser, na verdade, o nosso tempo. Tudo isto é terrivelmente perverso: a deflagração deste cenário ocorre em paralelo com a apologia do progresso, uma apologia com concretização real, o progresso materializado aconteceu de facto, desde que o comboio trouxe até nós a Inglaterra, e esse acontecer foi silenciando o demónio que se ia gerando no seu avesso, e o mundo sem saber, nessa vivência da euforia da invenção do engenho humano, uma euforia que continua viva hoje. Esta é ainda a nossa história. A medida da aceleração moderna da Europa tem a contrapartida do seu estar a caminho para um abismo que será o da catástrofe mundial, que acompanha a catástrofe europeia.»
Eduardo Lourenço, no texto «O Mundo Sem Saber»
chegarmos ao Futurismo e, de novo, ao Neo-classicismo. Tudo isto incidindo num período histórico de uma dramaticidade deslumbrante. A primeira Europa verdadeiramente capitalista, que era a potência dominante do mundo, com a sobrevivência ainda, sobretudo em Inglaterra e França, do poder colonial, assistia ao esboçar lento de algo que ninguém poderia imaginar então (a excepção foi realmente Nietzsche). O território europeu começava a ser um palco de guerra e esse facto marcou profundamente o século XX que continua a ser, na verdade, o nosso tempo. Tudo isto é terrivelmente perverso: a deflagração deste cenário ocorre em paralelo com a apologia do progresso, uma apologia com concretização real, o progresso materializado aconteceu de facto, desde que o comboio trouxe até nós a Inglaterra, e esse acontecer foi silenciando o demónio que se ia gerando no seu avesso, e o mundo sem saber, nessa vivência da euforia da invenção do engenho humano, uma euforia que continua viva hoje. Esta é ainda a nossa história. A medida da aceleração moderna da Europa tem a contrapartida do seu estar a caminho para um abismo que será o da catástrofe mundial, que acompanha a catástrofe europeia.»
Eduardo Lourenço, no texto «O Mundo Sem Saber»
Vol. 1: 448 pp. / Vol. 2: 408 pp. (reunidos numa caixa) - ISBN: 978-972-37-1483-8
Disponível nas livrarias.
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