Oh, como se me alonga de ano em ano
A peregrinação cansada minha!
Como se encurta, e como ao fim caminha
Este meu breve e vão discurso humano!
Vai-se gastando a idade e cresce o dano;
Perde-se-me um remédio que inda tinha;
Se por experiência se adivinha,
Qualquer grande esperança é grande engano.
Corro após este bem que não se alcança;
No meio do caminho me falece;
Mil vezes caio e perco a confiança.
Quando ele foge, eu tardo; e na tardança,
Se os olhos ergo a ver se inda aparece,
Da vista se me perde, e da esperança.
Luís de Camões (1524?-1580)
Sonetos de Luís de Camões
(escolhidos por Eugénio de Andrade)
quarta-feira, 10 de junho de 2009
Luís de Camões
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