E há poetas que são artistas
E trabalham nos seus versos
Como um carpinteiro nas tábuas!…
Ter que pôr verso sobre verso, como quem construi um muro
E ver se está bem, e tirar se não está!… Quando a única casa artística é a Terra toda
Que varia e está sempre boa e é sempre a mesma. Penso nisto, não como quem pensa, mas como quem não pensa,
E olho para as flores e sorrio…
Não sei se elas me compreendem
Nem se eu as compreendo a elas,
Mas sei que a verdade está nelas e em mim
E na nossa comum divindade
De nos deixarmos ir e viver pela Terra
E levar ao colo pelas estações contentes
E deixar que o vento cante para adormecermos,
E não termos sonhos no nosso sono. Alberto Caeiro, Poesia (edição de Fernando Cabral Martins e de Richard Zenith)
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