terça-feira, 18 de novembro de 2014

Manuel António Pina — 18/11/1943 § 19/10/2012

(© António Sabler. Clique na imagem para a aumentar)



MATÉRIA DE ESTRELAS


Porque é tudo para sempre, mesmo a efémera morte,
encontrar-nos-emos eternamente
e nunca mais nos veremos.
O impossível volta a ser impossível. Para sempre.

Impossível é cada manhã aberta,
um deus sonha consigo através de nós.
Às vezes quase posso tocá-lo, ao deus,
surpreendê-lo no seu sono, também ele real e efémero.

Matéria, alma do nada,
os mortos ouvem a tua música sólida
pela primeira vez, como uma respiração de estrelas.
A sua intranquilidade transforma-se em si mesma, música.


Manuel António Pina, in «Todas as Palavras - poesia reunida (1974-2011)», ed. Assírio & Alvim.



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