sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Inéditos de Herberto Helder


Para esclarecer as dúvidas de alguns leitores e livreiros que nos têm chegado nos últimos dias, reproduzimos a seguir a estrutura fundamental do índice de Ofício Cantante, «título escolhido para a primeira publicação, em 1967, de poemas reunidos do autor [...] agora recuperado para a sua poesia completa», conforme reza a nota editorial de abertura desta edição.
A COLHER NA BOCA [pp. 7-102], POEMACTO [103-124], LUGAR [125-182], COMUNICAÇÃO ACADÉMICA [183-186], A MÁQUINA LÍRICA [187-214], A MÁQUINA DE EMARANHAR PAISAGENS [215-221], HÚMUS [223-239], CINCO CANÇÕES LACUNARES [241-257], OS BRANCOS ARQUIPÉLAGOS [259-269], ANTROPOFAGIAS [271-296], ETC. [297-302], EXEMPLOS [303-316], O CORPO O LUXO A OBRA [317-328], DEDICATÓRIA [329-347], FLASH, [349-367], A CABEÇA ENTRE AS MÃOS [369-396], ÚLTIMA CIÊNCIA [397-438], OS SELOS [439-467], OS SELOS, OUTROS, ÚLTIMOS [469-482], DO MUNDO [483-531], A FACA NÃO CORTA O FOGO [533-618].
Para além de poemas retrabalhados e aumentados, refira-se ainda que A Faca Não Corta o Fogo, agora parte integrante dos poemas reunidos em Ofício Cantante, acrescenta 10 poemas inéditos à edição súmula & inédita de 2008.


3 comentários:

Rui Areal disse...

Ainda é possível adquirir «a faca...»? Informaram-me que a edição está esgotada. É verdade?
Obrigado.

Assírio e Alvim disse...

O livro, lançado em 2008, A Faca Não Corta o Fogo - súmula & inédita está esgotado. Pode encontrar e ler A Faca Não Corta o Fogo, acrescentada de 10 inéditos e vários poemas retrabalhados e aumentados, na obra Ofício Cantante - poesia completa, disponível nas livrarias desde o passado dia 22 de Janeiro.

Anónimo disse...

CHAMAS TRANSPARENTES (PARA HERBERTO HÉLDER)


falas de mulheres. de faces rosadas.
de mães e de gotas de água. de
batentes em semblantes sem tempo.
de fios umbilicais e de amor.
somente! sem nada por dentro.

falas de naturezas intrínsecas e
de imagens que alimentam. o informe!
de coisas mais altas. de pálpebras que
levitam em escafandros interiores. de
poços de petróleo invasores.

falas de orvalhos em flechas.
de pêlos sedosos e de ervas abertas. de
morte em pétalas puras. extasiadas.
de espinhos em cantos frios.
distantes e sozinhos. ou mudos!

falas de lembrança. em tudo!
de carne feroz em cítaras descidas. de
folhas inspiradoras como páginas brancas.
em estios enormes. recuados. inteiros.
em superlativos antigos.

falas de ausências deslocadas. de
sumptuosos vestidos em bailes sonhados.
de danças sem partitura. de breves
infâncias e titânicas investiduras.
de limalhas em artérias. absortas!

falas de pedregulhos púrpura. de
trevas escorregadias em idades sufocadas.
de uns tantos vivos em léxico. desnudos!
ao largo da fronteira da inspiração oca.
curta. em luz de estações fluviais.

falas de meteoros.
(são belos os espasmos da criação!)
e falas de cometas.
(são arados! que tratam do campo de estrelas.
resquícios do caos primordial, onde
apenas se manifesta autêntica liberdade).

falas de actos absolutos. mas
não existe absoluto. só evolução!

e falas de teorias.
todas o são. sem dúvida!

porém, a verdade é esta:
o universo nasceu para sucumbir!
toda a energia se esgota.
toda a vida deixa de o ser.
o milagre é a multiplicação das formas.
enquanto é. ou for. pois outra das certezas é
que o tempo não é humano.
só aqui reside a dádiva dos desígnios. maiores!

e no cânone?
apenas chamas transparentes.
realmente, a faca não corta o fogo.
só a mão que a empunha o faz!

eu?
falo-te dum simples abraço.

in Odes & Homenagens
Vicente Ferreira da Silva